sábado, 11 de outubro de 2008

Dia da criança- Por que brincar?


A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR PARA A CRIANÇA
Ao observarmos bebês recém-nascidos e a relação com seu ambiente podemos entender muito sobre os fenômenos que mais tarde irão definir a personalidade do adulto. Assim que nascem, os bebês apresentam naturalmente o comportamento de sugar o seio como uma forma instintiva de preservação da espécie. Uma das grandes contribuições da psicanálise foi descobrir que mesmo depois de satisfeito, o bebê continua sugando, seus dedos, seu polegar, e algumas vezes até o punho ele leva à boca na intenção de satisfazer algo mais, algo que transcende a fome e que nos fala de uma outra necessidade, a necessidade de prazer. Este prazer está localizado num espaço potencial entre o mundo interno e o externo. Quando consideramos que a realidade psíquica interna possui uma espécie de localização na mente, na alma, na cabeça ou em qualquer outro lugar dentro dos limites da personalidade do indivíduo, e a chamada realidade externa está localizada fora desses limites, o lugar do brincar e da experiência cultural acontece neste espaço "virtual", o mesmo lugar que existiu um dia a relação entre a mãe e o bebê. Essa área é extremamente valiosa, pois não se pode pensar no desenvolvimento emocional de uma criança sem considerar que o comportamento do ambiente faz parte do seu próprio desenvolvimento pessoal. Se lembrarmos o início da trajetória de um bebê recém-nascido, onde seu mundo restringe-se à relação com o seio e à mãe, encontraremos uma forma centrada de pensamento que sente que tudo faz parte dele, inclusive a mãe e o seio, tudo aquilo que pertence ao bebê e o que não pertence também é reconhecido por ele como uma continuação do seu próprio corpo, por isso a importância do contato físico dessa criança com a mãe ou alguém que assuma esta função, que acaricie este bebê e que vá naturalmente definindo oslimites do seu corpo.
Existe uma seqüência de eventos que começa com as primeiras atividades do polegar na boca do bebê e que acaba por conduzi-lo a uma fraldinha, uma chupeta a um brinquedo propriamente dito que vai aos poucos sendo reconhecido como algo que não faz parte do corpo dele, mas que pertence à realidade externa. Talvez um objeto macio, tenha sido encontrado e usado pelo bebê, como uma forma de defesa contra a ansiedade, é o chamado objeto transacional. Os pais vêm, a saber, de seu valor e levam-no consigo para onde forem. A mãe permite que fique sujo e mal cheiroso, sabendo que, se lavá-lo, produzirá uma ruptura de continuidade na experiência do bebê, ruptura que pode destruir o valor do significado para ele. O fenômeno é considerado saudável quando começa a surgir entre os seis e os doze meses de idade, e depois deve ser ampliado naturalmente para os outros objetos e para outros âmbitos de interesse da criança conforme vai crescendo e deixando para trás as necessidades da fase pertinente aos nenês. Aí está a origem do comportamento futuro do brincar de uma criança. O destino saudável deste objeto transacional é ser gradativamente trocado por outros objetos mais interessantes, de maneira que, com o curso dos anos, se torne não tanto esquecido, mas relegado a ponto de perder seu significado, é a partir deste momento que o brincar é instalado na relação com outro objeto ou pessoa. A cultura começa a tomar seu lugar. Cabe aos pais facilitarem este movimento da criança, com a sabedoria de que o jovem ser humano deve ser empurrado para fora da infância, jogado na meninice para que tanto os pais quanto a criança possam crescer.
E como se dá isso? Perguntam os pais. Através do brincar. Oferecendo-lhes seu tempo e desejo de criarem juntos alternativos melhores para todos.
Além de ser um direito regulamentado por lei, o brincar é, para a criança de qualquer parte do mundo, muito importante. Nas brincadeiras a criança desenvolve a criatividade através do faz-de-conta e trabalha o que tem de mais sério, de mais necessário, de mais vital: o crescimento e o desenvolvimento da vida. As brincadeiras são universais, estão na história da humanidade ao longo dos tempos, fazem parte da cultura de um país, de um povo. Achados arqueológicos do século IV a.C., na Grécia, descobriram bonecos em túmulos de crianças. Uma forma de brincar é o faz-de-conta das crianças, que começa muito cedo pela imitação dos adultos. a criança vai se apropriando das vivências cotidianas, internalizando essas experiências e tornando-as suas. Essa é uma das formas da criança explorar, experimentar e conhecer o mundo e a realidade que a circunda. Quando brinca de bonecas está re-apresentando o cuidar que experimenta da mãe, está vivendo esse papel em seus aspectos cognitivos e afetivos. No faz-de-conta pode exercer diversos papéis para, dessa forma, melhor compreendê-los. E, à medida que esse processo se amplia com a participação de outras pessoas, a criança vai aprendendo a lidar com diferentes situações, a estabelecer relações entre ela e o outro, ao mesmo tempo em que se diferencia deste.
As brincadeiras como cantigas de roda, cabra-cega, queimada e os diversos tipos de atividades esportivas e jogos como futebol, xadrez e damas, por exemplo, apresentam situações pré-estabelecidas, não são criadas por um indivíduo em particular. Portanto, não expressam diretamente aspectos de suas próprias vivências. Mas nelas também a criança experimenta emoções e vivências comuns a todos os indivíduos, simbolicamente representadas, e aprende a respeitar regras e limites, a conviver com o outro. Além disso, nas brincadeiras tradicionais, a criança entra em contato com experiências passadas, que fazem parte da história da cultura em que vive. Dessa forma, brincando – sem estar exercendo funções adultas – a criança elabora sentimentos, fantasias, angústias, medos, aprende a se relacionar com o mundo a se apropriar da história do grupo social do qual faz parte e da história da humanidade. A brincadeira permite que a criança resolva de forma simbólica problemas não resolvidos do passado e enfrente direta ou simbolicamente questões do presente. O brincar tem, hoje, sua importância reconhecida por estudiosos, educadores, organismos governamentais nacionais e internacionais. A Declaração Universal dos Direitos da Criança (aprovada na Assembléia Geral das Nações Unidas em 1959), no artigo 7º, ao lado do direito à educação, enfatiza o direito ao brincar: “Toda criança terá direito a brincar e a divertir-se, cabendo à sociedade e às autoridades públicas garantir a ela o exercício pleno desse direito”.
As crianças que não têm grandes oportunidades de brincar e com as quais raramente se brinca sofrem graves interrupções ou reveses intelectuais, porque na brincadeira e através dela, a criança exercita seus processos mentais.
A contribuição da brincadeira na sua relação com a cultura é a capacidade da criança de aprender a não desistir aos primeiros sinais de fracasso, e sim, tentar e tentar novamente; ou seja, na perseverança e no esforço tenaz, possibilidades de aprendizado cultural.
Na imaginação, a criança pode ser absolutamente despótica, sem limitações para seu domínio. Mas quando começa a representar a fantasia, aprende depressa que mesmo soberanos absolutos estão sujeitos às limitações da realidade aprenderá depressa que mesmo o imperador mais poderosamente imaginado só poderá reter o trono enquanto desfrutar da boa vontade dos súditos, que só pode brincar de soberano se tornar esse jogo atraente para seus companheiros.
A brincadeira deve ser vista como uma "ponte" para o aprendizado das leis culturais e sociais.
Winnicott desenvolveu uma teoria do desenvolvimento humano baseada na criatividade e no encontro do indivíduo com sua realidade cultural como um processo de desinvestimento narcísico, tendo a brincadeira papel fundamental nesse desenvolvimento:
Winnicott acredita que "todo indivíduo deve encontrar um lugar de onde operar no mundo". Esse "lugar" é propiciado pelas primeiras experiências, devendo haver um espaço nem subjetivo nem objetivo para se inserir esta experiência. Esse espaço potencial é o espaço do imaginário, do jogo. É nesse espaço criado pelo bebê para aceitar estar sozinho que virá alojar-se a experiência cultural e artística. Se fôssemos tentar esquematizar o que Winnicott chama de desenvolvimento normal, teríamos: a) a inauguração dos fenômenos transacionais, com a utilização de um objeto transacional ( citado no início do texto); b) o início do brincar; c) o brincar compartilhado; e d) a experiência cultural, com o indivíduo investindo e compartilhando das conquistas de sua cultura.

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